terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

super-conectado

Presenciei um assalto.

Pela primeira vez vi algo assim, mas não sei dizer o que me surpreendeu mais.

Era um dia ensolarado na capital palmense, pra variar, e o movimento na avenida JK era intenso. Não imaginava que aquela hora do dia, com uma grande movimentação de pessoas, fosse encontrar  um indivíduo sentado em um banquinho, com um notebook conectado a um modem 3G no colo, um smartfone no ouvido e o outro na mão. Mas as pessoas que passavam não estavam enxergando aquele cara sentado ali, todo mundo também estava conectado ao seu universo tecnológico. Eu também estava, mas a bateria do meu aparelho celular acabou e fui obrigada a observar o que estava se passando no local, claro, enquanto procurava com certo desespero uma tomada. Foi quando dois caras, jovens e fortes, abordaram o rapaz conectado a vários apetrechos tecnológicos. Na mesma hora, um dos celulares que estava na mão, foi direto ao chão e do chão para o bolso de um dos caras que abordaram o rapaz sentado, que vou chamar de super-conectado. Um canivete apontado para o rosto do super-conectado o desconectou. Com sua arma, os caras jovens e fortes, que vou chamar de assaltantes, pegaram todos os acessórios e apetrechos, e celulares, e computadores, e afins e colocaram tudo dentro da mochila, que deveria ser o altar sagrado do super-conectado. E neste momento eu fui surpreendida, o assalto não era nada perto do que eu estava prestes a presenciar, o super-conectado tentou reagir, mas foi em vão e após a partida dos assaltantes com toda a vida do super-conectado, este ficou sem reação. Era como se o canivete o tivesse atingido em todas as partes do corpo, sua expressão era de horror, de desgraça e ele gritou, ele chorou, ele esperneou, mas ninguém ouviu, ninguém fez nada, ninguém o via ali. O super-conectado começou a observar as pessoas passando, começou a sentir seus gritos abafados pelo eco dos toques dos celulares, viu suas lágrimas caindo pelo mesmo motivo que mantinha as pessoas distantes dele, começou a se questionar em que mundo vivia e porque continuaria vivendo em um mundo sem seus apetrechos, ninguém sabia o quanto aquilo valia pra ele e não valia nada. Será que super-conectado tinha amigos? Uma família? Namorada? Observou todos a sua volta, não dava pra viver nesse mundo real. Se jogou em frente ao trânsito intenso, ninguém o viu. Mas eu estava ali, horrorizada. 

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