terça-feira, 16 de setembro de 2014

"eu e meu marido, um só"

Desde muito cedo as mulheres lutam por representatividade política, por igualdade de gênero e de direitos. Hoje, a grande luta do movimento feminista é por uma reforma política que amplie a presença das mulheres nos espaços de poder e por uma democracia participativa, para que as mulheres também possam protagonizar as principais decisões e mudanças do país. Justo, lindo, um sonho.

Nós, mulheres, precisamos de representatividade no congresso, nas assembleias, nas câmaras. Mas, não precisamos oportunizar apenas UMA mulher, mas UMA MULHER que lute em prol de nossas causas, que lute ao favor de nossos direitos, que não privatize e mercantilize nossos corpos, que nos garanta a liberdade do corpo e da mente. Atualmente, o setor conservador tem se mostrado muito forte no processo eleitoral, travando discussões importantes como a questão do aborto e do casamento gay. Precisamos de mulheres nesses espaços!!!

A política é historicamente dominada pelos homens e as mulheres têm permitido que essa dominação se estenda. Não precisamos ir muito longe para citar um exemplo de dominação e submissão, vamos olhar para o cenário político tocantinense. Semana passada, o candidato a vice-governador da coligação “A experiência faz a mudança”, Marcelo Lelis (PV), teve o registro de sua candidatura rejeitado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e renunciou sua candidatura ao cargo.

Ok. Até ai tudo bem. Mas essa semana, adivinha quem registrou candidatura ao cargo? Não, não foi nenhum outro nome de peso da coligação e sim a esposa de Marcelo, Cláudia Lelis. Qual a intenção de inserção no cenário político? Participar do processo? Representar as mulheres? Não, nenhuma das alternativas, até que alguém prove o contrário. A intenção é falar, sem palavras, que Lelis continua ali. Seria algo como: “Olha, minha candidatura foi rejeitada, mas a minha mulher está aqui, meu sobrenome está aqui, eu estou aqui, ainda serei eu que darei as coordenadas, que comandarei, usarei o NOME dela para mim”.

Porque as mulheres têm se permitido isso? Com a morte de Eduardo Campos (PSB) surgiram rumores que a sua mulher, Renata Campos, assumiria a candidatura à presidência. Mas para quê? Para dizer, “Eduardo Campos não morreu, o sobrenome ainda estará aqui, as ideias dele também vão estar, somos um só”. A esposa é mulher, é companheira, constrói e cresce junto, mas ela não é e nunca será uma extensão do marido, não existe um só.


As mulheres têm ideias próprias, têm posicionamento, têm sua luta de classe...Ok que não tenha luta de classe, ok que não tenha ideias próprias, ok que não tenha posicionamento político. Mas agora, virar “propriedade” do marido para garantir que ele não retire seu nome de um processo eleitoral é demais pra mim e, sem dúvidas, envergonha à luta de todas as mulheres pelos seus direitos e contra a dominação.